O que fazer quando o seu maior objetivo de vida parece que não vai acontecer? Assim como qualquer grande meta, passar pela recuperação de uma doença difícil pode trazer dúvidas e inseguranças. O famoso “o que eu faço agora?” é uma faceta do pós-tratamento do câncer.
A diminuição das várias consultas ao médico, das idas e vindas do hospital, das internações…toda essa mudança de rotina é uma novidade.
É comum que o novo momento traga inúmeras inseguranças e medos, que podem variar desde preocupações com a recorrência da doença até incertezas sobre a qualidade de vida futura. A busca por motivação e significado na vida se torna uma força motriz.
Acredito que enxergar o pós-tratamento do câncer como uma oportunidade de se redescobrir e exercitar a capacidade de se adaptar, promove um crescimento pessoal profundo e significativo. Foi o que aconteceu comigo.
Buscar novas motivações é um processo contínuo, mas o cuidado com a saúde deve continuar presente nos melhores e piores dias. Hoje, vamos explorar meios de reconstruir a saúde e o bem-estar em todos os seus aspectos.
Quais os impactos do tratamento do câncer na saúde?
Assim como quando ficamos um pouco mais velhos, durante o pós-tratamento do câncer (assim como em tratamento) necessitamos de cuidados especiais para não ficarmos exageradamente fatigados, indispostos e com o corpo dolorido.
Devido ao estresse contínuo que o corpo enfrentou, é comum que diversos impactos na saúde se manifestem.
Os efeitos colaterais da quimioterapia, radioterapia e cirurgia, bem como as sequelas do câncer, podem variar de leves a graves e incluir alterações na pele, diminuição da disposição, náuseas, neuropatias, problemas de memória e alterações no peso. Além de alguma perda de mobilidade em alguns tipos de câncer.
O que vivemos durante a doença também pode afetar a saúde mental, levando a sentimentos de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.
Além disso, talvez o seu corpo não retorne 100% ao que era antes.
Por isso os cuidados com o corpo devem ser intensificados. Ou seja, maiores do que os do “seu eu” antes do câncer. Mas isso não deve ser tão difícil, afinal, durante e após o tratamento, desenvolvemos maior autoconsciência do que o corpo precisa, seja fisicamente ou emocionalmente. Criamos o hábito de nos cuidar. Esse já é o primeiro passo.
Como reduzir os efeitos colaterais?
De certa forma as sequelas pós-tratamento do câncer podem ser desafiadoras e impactar a capacidade de retomar as atividades diárias e de se reintegrar à vida normal.
Buscar por cuidados multidisciplinares, incluindo acompanhamento médico regular, fisioterapia, terapia ocupacional e suporte psicológico, ajuda a lidar com os colaterais e promover a recuperação física e emocional.
Devido a minha experiência, posso dizer que uma abordagem importante para a redução das sequelas é manter uma comunicação aberta com a equipe médica. Relatar qualquer sintoma ou desconforto contribui para que sejam gerenciados possíveis efeitos persistentes como dores crônicas.
Participar de grupos de apoio e atividades sociais também ajudam na reintegração à vida após o tratamento, reduzindo o isolamento e promovendo o senso de pertencimento.
Medicação e terapias complementares
Em alguns casos, o uso de medicamentos ou terapias complementares, como acupuntura e massagem terapêutica, contribuem para alívio das dores.Mas é claro, essas medidas são auxiliares e devem ser autorizadas pelos seus médicos.
Como reconstruir o bem-estar pós-tratamento?
O processo de reconstrução no pós-tratamento do câncer também envolve a adoção de práticas que podem ser incorporadas ao dia a dia, bem como exercitar a disposição para explorar novas perspectivas e identidades.
É importante compreender que a jornada do câncer pode transformar profundamente uma pessoa, e buscar se apegar ao seu “antigo eu” pré-câncer pode ser contra produtivo e não refletir mais quem você é agora.
Alimentação adequada
Antes do câncer de mama, eu acreditava que era uma pessoa super saudável. Mal suspeitava que me encher de produtos industrializados tidos como diets ou lights, não contribuem em nada com a minha saúde, aliás, me faziam muito mal.
A adequação alimentar foi um passo na minha resistência aos efeitos colaterais do tratamento oncológico. Algumas vezes eu nem sentia cansaço ou enjôo. Da mesma forma, após o câncer, a alimentação intencional foi o que me proporcionou, e proporciona maior conforto no cotidiano.
Quem nunca comeu demais e se sentiu estufada? Indisposta? Ou comeu algo gorduroso e acordou cheia de espinhas? Bom, isso tem efeitos a longo prazo. E se você não sabe, alimentos industrializados ou gordurosos são muito ácidos e inflamatórios. Por isso, devemos evitar certos alimentos para diminuir o risco de uma recidiva. Dê uma olhadinha na minha abordagem de alimentação anticâncer com base em uma dieta alcalina e antiinflamatória clicando aqui.
Mantenha-se em movimento
Levante-se de manhã fazendo alongamentos e se possível, uma caminhada (não esquecendo o protetor solar) depois de um bom café da manhã nutritivo.
Esse hábito ajuda a começar o dia com mais disposição.
Encontre formas de lidar com o estresse
Práticas como meditação, ioga, exercícios de respiração e terapia reduzem o estresse o estresse e auxiliam o equilíbrio.
Mas uma coisa que você deve ter em mente é sobre a importância de fazer atividades sem pressão, sabendo que apesar delas te tirarem da zona de conforto, futuramente se tornarão habituais. Assim como sua rotina durante o tratamento oncológico, siga um passo de cada vez.Concentre-se no momento presente.
Mantenha-se conectado
Durante o câncer, algumas pessoas em nossa vida tendem a se afastar, seja pela correria ou infelizmente, pelo desinteresse. O lado bom disso tudo (se é que posso dizer assim) é que nosso ciclo social é “polido” e as pessoas que ficam nele são as que mais nos querem bem. Valorize isso.
Reserve um tempo para encontrar amigos e passar um dia com eles. Pode ser revigorante.
Participe de atividades que lhe tragam alegria.
Encontre hobbies e atividades que tragam prazer. Talvez você não goste de tudo que gostava antes, mas tudo bem. Busque sentido em algo novo. Tocar um instrumento, procurar por um novo esporte, praticar trabalho voluntário. Procure atividades que abram um sorriso no seu rosto. Aliás, já é comprovado que rir alivia dores.
Planeje seu dia
Nossa mente e corpo gostam de rotina, mas de uma rotina SAUDÁVEL. Utilize um planner para monitorar os hábitos saudáveis que você precisa manter como o horário certo dos remédios, de dormir, dos exercícios, o dia certo de comer aquele docinho, a quantidade de dias que você foi à academia…
O planner te ajuda a não esquecer as prioridades diárias. Saber o que fazer alivia a ansiedade, e é essencial para alguém que acabou de se desvincular de uma rotina tão centrada no tratamento do câncer.
Estabelecimento de metas realistas
Metas alcançáveis e realistas criam um senso de propósito e realização sem estimular sentimentos de culpa. Viva um dia de cada vez, aceite os dias ruins e recomece.
Como é a vida de um paciente oncológico após o término do tratamento de câncer?
A reconstrução do sentido é única para cada pessoa e pode levar tempo. É importante ser gentil consigo mesma e permitir-se espaço para crescer e se adaptar, já que reconhecer e aceitar as mudanças são os primeiros passos para um recomeço cheio de aprendizados e realizações.
Vejo que, como aconteceu comigo, muitas mulheres repensarem seus valores e foram tomadas pelo sentimento de solidariedade revigorante.
O Das Coisas que Tenho Aprendido é um exemplo. Entendi que tinha um novo propósito, o de atingir mulheres que passam ou passaram pelo mesmo que eu. Crie um significado para a sua vida hoje.
Se voltar ao essencial e me desfazer daquela mentalidade produtivista, fazendo o que eu amo, tendo uma relação mais saudável e significativa com o trabalho, descansando mais e tirando projetos da gaveta, são os frutos doces que colhi de uma árvore que parecia ter só frutos ruins.
Seja gentil consigo durante o pós-tratamento do câncer, permitindo-se tempo e buscando o apoio necessário para promover sua saúde física, mental e emocional.