Por que os alemães são melhores que nós?
Após ser diagnosticada com câncer de mama na Alemanha, fiz a minha primeira cirurgia (mastectomia) no dia 08 de julho de 2014.
E enquanto me recuperava da cirurgia, assisti a semi final da copa do mundo (Alemanha 7 x Brasil 1), de um hospital, fato que me incentivou a escrever este post.
Enquanto assistia do quarto de um hospital alemão, ao jogo Alemanha 7 x Brasil 1, se é que se pode se chamar assim o massacre que ocorreu…
Não pude deixar de analisar que infelizmente, o que aconteceu em campo, em uma partida de futebol é o retrato da nossa pátria amada, diante da estratégia, do preparo, do profissionalismo, da técnica, enfim, de todo o trabalho desenvolvido pela Alemanha.
E diante de tudo isto, não há jeitinho que dê jeito, não há raça ou força de vontade que supere o trabalho sério.
Não há torcida que reanime o espírito abatido, quando descobrimos que o excesso de alto confiança, que a crença de que no final tudo vai dar certo, faz com que não nos esforçamos como deveríamos .
É de fato humilhante para o país do futebol perder assim de forma tão vergonhosa.
Mas muito mais triste e vergonhoso é perceber que não perdemos para a Alemanha somente no quesito futebol:
Vim pra cá de férias, gosto desse lugar, de como aqui tudo é organizado e funciona. Sempre que visito a Alemanha penso em como o nosso país seria se tivéssemos o mínimo de estrutura que se tem por aqui. Como seriam nossas escolas, estradas, hospitais…
Não vou levantar a bandeira contra a Copa do Mundo ter acontecido no Brasil, mas é um absurdo que o governo tenha gasto 8,9 bilhões somente com construção e reforma de 12 estádios olímpicos (300% a mais que a previsão inicial feita pela FIFA em 2007 de 2,6 bilhões).
E veja bem, toda essa quantia somente para estádios olímpicos, no total de 12, em um país que não oferece o básico aos seus cidadãos!!!!
A Copa nos custou 30 bilhões de reais! O governo alega que boa parte desse dinheiro foi destinado à obra de infraestrutura.
Mas nós, brasileiros, sabemos onde boa parte desse dinheiro foi parar!
A impunidade e corrupção infelizmente acaba com toda a possibilidade de tornar o nosso país um lugar mais justo e estruturado.
E enquanto nossos governantes fazem questão de fazer bonito pro mundo afora, esbanjando o dinheiro publico, construindo estádios em estados sem a menor infraestrutura, como o Amazonas por exemplo, (vocês sabiam que o Brasil foi o país recorde em números de estádios pra uma copa do mundo?)
Escondemos pra baixo do tapete, outros recordes não tão bonitos:
Como explicar que um câncer de mama, na maioria das vezes curável, é o que mais mata mulheres no Brasil?
Talvez parafraseando o nosso querido goleiro Júlio Cesar, a minha história, sirva para explicar o inexplicável:
Há um ano atrás, tomando banho, percebi um nódulo no meu seio direito, mesmo com plano de saúde, diante da dificuldade em conseguir uma consulta com a minha médica, fui a outra médica que imediatamente me solicitou uma biopsia.
Apreensiva com o exame, liguei pra uma cirurgiã plástica especializada em reconstrução de mamas que já havia cuidado de minha mãe após uma plástica mal realizada e que me deu a seguinte orientação:
“você não acha que está se precipitando e se apavorando sem necessidade? Calma! Você vai ficar com uma cicatriz horrível no peito sem necessidade! Escute uma segunda opinião. Você é jovem e nem tem caso de câncer na família. Vou te indicar pra uma Mastologista de minha confiança.”
E assim , estava eu me tratando no Brasil com uma Mastologista bastante requisitada no Rio, onde já havia feito mamografia e ultrassonografia e como se tratava de um nódulo benigno, tinha que voltar a cada seis meses pra controlar.
E inclusive já tinha uma ressonância magnética agendada para agosto.
No entanto, diante do choque de realidade e da insistência da minha amiga também brasileira, que mora na Alemanha há 13 anos, que já teve 2 nódulos no seio .
Ela teve um tratamento totalmente diferenciado do que estava recebendo, onde a primeira orientação é a biopsia e retirada do nódulo independente do resultado, decidi fazer uma consulta com o medico que tratou dela .
Somente quem é brasileiro e sabe o que é, mesmo com plano de saúde, ter que esperar por mais de um mês pra fazer um exame, pode entender o que é estar em um hospital publico, bem administrado, e com toda a estrutura pra fazer por exemplo uma ultrassonografia e até mesmo uma biopsia na mesma hora e o resultado ficar pronto em 2 dias!
Isso sim é Alemanha 7 x Brasil 1 !!!!
Isso sim é uma vergonha e humilhação pra nós que também pagamos impostos e não temos um sistema de saúde decente entre tantos outros serviços que o governo nos deveria oferecer…
Então fica fácil saber por que o câncer de mama mata tantas mulheres no Brasil …
Porque infelizmente, quando se descobre a doença, ela já está em um estagio tão avançado que quase não há nada que se fazer!
A não ser entrar numa fila de espera para quem sabe conseguir um tratamento adequado para uma doença em que o tempo faz toda a diferença.
Além de médicos despreparados que acreditam que somente com ultrassom e mamografia podem diagnosticar a paciente e a desencorajam a fazer a biopsia que é indolor e não deixa nenhuma cicatriz (pelo menos aqui na Alemanha).
o Brasil sofre com a falta de estrutura, além da dificuldade de se conseguir uma mamografia pelo SUS (sistema único de saúde), a qualidade técnica dos exames dificultam a detecção do nódulo pra uma doença que cresce silenciosamente.
Segundo a estimativa da Sociedade Brasileira de Radioterapia perto de 100.000 pacientes precisaram de radioterapia e não receberam em 2013.
Mas a nossa política do “pão e do circo” não prioriza as necessidades mais básicas da nossa população.
Ao contrario, nossos governantes acham (e as vezes acho que eles estão corretos) que basta dar “pão” pro povo: bolsa família e vários outros programas que funcionam mais como um cala a boca e compra de votos;
E dar “circo”: como se todos os problemas do Brasil fossem resolvidos, e toda a insatisfação da população fosse mascarada, caso fossemos campeões do mundo e como mágica, não perceberíamos as diferenças entre o que pagamos e o que recebemos, como somos tratados e como são tratados os cidadãos da Alemanha, por exemplo, pelos seus governantes.
Pronto : falei!
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